AFA
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Extractos de posts que dão conta do olhar (prevenido ou desprevenido) do blogger sempre que contempla pelo retrovisor a paisagem da blogosfera
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"BILHARDICES / No cabelereiro de homens como num blogue."
Miguel Marujo (11/10/06)
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Ficha Técnica
Qualidade da vista: Curta, embora o espelho reflicta o locus do ponto de vista.
Estado da viajante: Aquieto e paciente. Na expectativa de uma ou outra derrapagem.
Tipo de espelho: Liso, mas marcado já pelo tempo.
Tom (linguagem vs. rede): Um Andantino ao ritmo de Edward Scissorhands.
Outras impressões:
Naquele tempo, o barbeiro enchia a curvatura da vida. Lembro-me que havia um cigano alto e magro todo contente pelo Benfica ter ganho ao Real Madrid de Di Stéfano por 4 a 1. As vozes cadenciavam o mutismo e, do outro lado do cigano, um sujeito seco de testa larga falava – como se as palavras fossem passos de gaivota na areia - dos longos cabelos da mulher há muito falecida (e que haviam resistido até ao dia em que os ossos se removeram das profundezas da terra). A cultura do barbeiro durou pelo menos até aos tempos da Banda do Casaco. Depois veio a paneleirice – passe o tom erudito do termo – e os cabeleireiros abriram-se ao gender e multiplicaram-se como os pães, o design e outros milagres mais ou menos liofilizados. Não quero dizer com isto que a comparação do Miguel nos remeta apenas para a cor diáfana do copo de leite, ou tão-pouco para a rara salubridade da vida em estado de blogue. Mas, como diria a mãezinha de Di Stéfano: “Pero que las hay, hay”. De facto, com música de fundo, com tesouras eléctricas, com links infindos, com YouTube e tudo… nada já há que se compare com a antiga oralidade da barbearia: aí as vistas ainda eram largas e perdiam-se na mitologia e na prestidigitação memorial. Hoje, a vista que se pode abarcar a partir do cabeleireiro masculino ou dos blogues tem pelo menos uma coisa em comum: a vida imparavelmente encenada dentro do próprio espelho.
"BILHARDICES / No cabelereiro de homens como num blogue."
Miguel Marujo (11/10/06)
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Ficha Técnica
Qualidade da vista: Curta, embora o espelho reflicta o locus do ponto de vista.
Estado da viajante: Aquieto e paciente. Na expectativa de uma ou outra derrapagem.
Tipo de espelho: Liso, mas marcado já pelo tempo.
Tom (linguagem vs. rede): Um Andantino ao ritmo de Edward Scissorhands.
Outras impressões:
Naquele tempo, o barbeiro enchia a curvatura da vida. Lembro-me que havia um cigano alto e magro todo contente pelo Benfica ter ganho ao Real Madrid de Di Stéfano por 4 a 1. As vozes cadenciavam o mutismo e, do outro lado do cigano, um sujeito seco de testa larga falava – como se as palavras fossem passos de gaivota na areia - dos longos cabelos da mulher há muito falecida (e que haviam resistido até ao dia em que os ossos se removeram das profundezas da terra). A cultura do barbeiro durou pelo menos até aos tempos da Banda do Casaco. Depois veio a paneleirice – passe o tom erudito do termo – e os cabeleireiros abriram-se ao gender e multiplicaram-se como os pães, o design e outros milagres mais ou menos liofilizados. Não quero dizer com isto que a comparação do Miguel nos remeta apenas para a cor diáfana do copo de leite, ou tão-pouco para a rara salubridade da vida em estado de blogue. Mas, como diria a mãezinha de Di Stéfano: “Pero que las hay, hay”. De facto, com música de fundo, com tesouras eléctricas, com links infindos, com YouTube e tudo… nada já há que se compare com a antiga oralidade da barbearia: aí as vistas ainda eram largas e perdiam-se na mitologia e na prestidigitação memorial. Hoje, a vista que se pode abarcar a partir do cabeleireiro masculino ou dos blogues tem pelo menos uma coisa em comum: a vida imparavelmente encenada dentro do próprio espelho.