quarta-feira, 15 de novembro de 2006

Blogues e Meteoros - 9

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A profecia da ciberpoética (hoje e amanhã no Expresso online)
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Uma coisa é um blogue dar atenção ou dedicar-se à poesia, outra coisa é a sobrevivência na rede da poética tal como (culturalmente) a entendemos. Para expiar angústias, passo a apresentar uma breve cartilha em sete pontos sobre o futuro da ciberpoética. E por saber que o “miedo no es sonso”, como escreveu Borges em El Libro de Arena (1975), daqui a cem anos vamos ver se não acertei em cheio:
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1 – A vida da ciberpoética será cada vez mais provisória, um verdadeiro vaivém em oposição a uma vasta tradição que sempre encarou a poesia como inscrição definitiva (uma espécie de magistral ‘sinal dos tempos’). O destino da ciberpoética vai, pois, ser o movimento: fluir e navegar através de permanentes subtracções e adições.
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2 – A autoria da ciberpoética tenderá cada vez mais a descolar de marcas individuais. Assistiremos ao regresso e triunfo do palimpsesto de várias entradas e autorias. Esta sobreposição será mais sincrónica - várias autores ao mesmo tempo - do que diacrónica, no sentido em que um texto profético medieval era rescrito secularmente (por exemplo, a Sibila Tiburtina existiu intertextualmente entre os séculos III e XV, num quadro discursivo ex eventum que se ia adaptando às mais diversas circunstâncias históricas).
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3 – A identidade do poético viverá cada vez mais do contraste com as zonas da rede baseadas na informação transitiva (quando a função se resume a designar, indicar, noticiar, difundir ou publicitar visando alvos tangíveis e reconhecíveis). A ciberpoética será, ao invés, aquele aquário de linguagem que não visa nenhum objecto específico e que apenas se refere a si próprio. Este contraste é parecido com o que é estabelecido no mundo offline entre as chamadas zonas funcionais e aquelas zonas onde o design se alia ferozmente à eficácia.
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4 – A ciberpoética deixará de significar em função de um contexto prévio. Isso quer dizer que um cibertexto poético passará a criar cada vez mais o seu próprio contexto, deixando de haver um “de fora” e “um de dentro” rígidos tal como acontecia e acontece na vida offline (o caso de um livro ou de uma escultura no espaço público);
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5 – Tal como a organização da rede não é centrada, também as linhas que organizam o cibertexto poético deixarão de estar presas a um centro ou a uma finalidade óbvia. Por natureza, o cibertexto poético passará cada vez mais a desdobrar-se e a irradiar nos interfaces da rede.
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6 – A ciberpoética acabará com a tradição milenar que concebeu a poética como uma ocupação linear do espaço. No mundo online, a noção de sequência e de linearidade explodirá cada vez mais na direcção da multimodalidade e da coexistência dos registos que procedem das mais variadas origens.
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7 – A ciberpoética será cada vez mais incorpórea: a comunicação pela comunicação, a volatilidade, a corrente de ar passageira. O poeta Carlos Bessa disse-o por palavras simples: “Quando cheguei/ à escola era a guerra, o/ cimento, o petróleo. Agora,/ é a comunicação, o chewing/ gum”.