sexta-feira, 27 de outubro de 2006

Rascunhos de fds

e
As pálpebras estão pesadas e o corpo é uma mancha incerta que mal se sabe acordada: do passado vem um vento que galopa, um calafrio antigo, os cabelos no ar em frenesi como se lavassem o ouro do fundo da terra.
e
E a pele lavrada pelo vazio a que as mãos se entregam no cativeiro: são delírios que fustigam, pequenas tempestades que chegam com o som dos gansos ao longe; filamentos de nuvens perdidas que são ameaça sob a forma de minúcia. Há um leito por onde passa a respiração, às vezes a tosse, ou mesmo o som das cordas vocais apenas para testar se ainda cintilam.
e
E quando o sono surge nada se pasma: é uma morte macia, humedecida. Há muito que esqueceu a represa de águas onde descobriu o sorriso, hoje um vagar esfomeado e sem fulgor. Uma cartilagem falecida onde pousam flores invisíveis. Do passado vem um vento que galopa, um breve tremor. Nada mais.
e
(micro-extracto do meu próximo e décimo romance, coisa ainda sem nome)