Especial 09/11: entrevista a Paulo Tunhas
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o Miniscente está a publicar uma série de entrevistas acerca da blogosfera e dos seus impactos na vida específica dos próprios entrevistados. Hoje o convidado é Paulo Tunhas, Filósofo.
o Miniscente está a publicar uma série de entrevistas acerca da blogosfera e dos seus impactos na vida específica dos próprios entrevistados. Hoje o convidado é Paulo Tunhas, Filósofo.
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- O que é que lhe diz a palavra “blogosfera”?
A possibilidade de conversas e discussões sem o tipo de mediações que, por exemplo, os jornais exigem. O que – colocando, é verdade, problemas particulares - é uma virtude em si. Tenho a certeza, por exemplo, que muito do que se escreverá hoje e nos dias consecutivos sobre o 11 de Setembro nos blogs será incomparavelmente mais pertinente e informado do que aquilo que poderemos encontrar na maioria dos media - que, para disfarçar a natural indigência, buscam ser subtis fazendo uma sociologia selvagem que é o disfarce fruste (às vezes nem isso) de um convencimento político “de esquerda” (e, mais do que “de esquerda”, do puro e simples medo de pensar). Aposto que nos telejornais de hoje vamos assistir a verdadeiros florilégios de sociologia selvagem. Com a boa consciência que o anti-americanismo e o anti-israelismo – é a sua razão profunda de ser - têm o dom de provocar. Como o interesse do exercício é puramente teratológico, confesso que não vou ver. E não é por má-fé: é porque já sei mesmo (um saber de experiência feito) o que iria ouvir, quase ao mínimo detalhe. Mas vou ler alguns blogs – e jornais, claro.
- Seguiu algum acontecimento nacional ou internacional através de blogues?
Todo o pós-11 de Setembro. Quem se lembrar o que era o grosso da cobertura jornalística, noticiosa ou opinante, das sequelas do 11 de Setembro (e não me refiro unicamente, nem sobretudo, à guerra do Iraque), percebe a lufada de ar fresco que veio dos blogs, de muitos blogs. Claro que, nos jornais, havia gente como Pacheco Pereira, Helena Matos, Diogo Pires Aurélio, Vasco Pulido Valente, Vasco Graça Moura, Francisco José Viegas, Esther Muznik, José Manuel Fernandes, entre outros, que, com várias diferenças entre si, não alinhavam na corrupção do espírito reinante. Mas eram uma minoria. De resto, a coisa pouco mudou. Os ataques a Israel e a resposta de Israel ao Hezbollah suscitaram na maioria dos media o mesmo estado de espírito que o 11 de Setembro: as vítimas do ataque eram, por definição, culpadas. E, mais uma vez, os blogs, muitos blogs, portaram-se muito melhor.
- Qual foi o maior impacto que os blogues tiveram na sua vida pessoal?
Nenhum. Enfim, um que não é exactamente “pessoal”. Quando Fernando Gil e eu (com Danièle Cohn) publicamos o livro Impasses, sobre o pós-11 de Setembro, foram os autores de blogs – o primeiro, creio eu, foi o Pedro Lomba, e agradeço-lho daqui – que começaram a falar do livro, no meio de um silêncio jornalístico nada inocente. E, mesmo quando o livro começou a ser referido nos jornais, as melhores discussões foram as dos blogs. Secundariamente, descobri também que, a par de maior liberdade de espírito (e melhor cabecinha), havia também gente que escrevia muito melhor que a média dos opinantes jornalísticos. O que, não sendo exactamente um prodígio, dá prazer.
- Acredita que a blogosfera é uma forma de expressão editorialmente livre?
Talvez por ignorância, não vejo como podia não ser assim, partindo do princípio que percebo o que quer dizer com “liberdade editorial”. O Luís não se sente “editorialmente livre” no seu blog? Isto, claro, não se permitindo decretar uma talvez apetecível fatwa contra inimigos políticos ou pessoais. Mas isso… O Luís permitir-se-ia, por exemplo, reclamar ardentemente terríveis medidas persecutórias contra a nutricionista totalitária Isabel do Carmo – que fosse forçada a usar o véu islâmico, ou a sofrer as indignidades costumeiras das mulheres no Islão, ou coisas assim? Não se permitia. Mas pode-lhe chamar “nutricionista totalitária”, se quiser. E bem, se me é permitida uma opinião na matéria. Mas o não se permitir a primeira coisa, e permitir-se a segunda, não lhe tira um milimetrozinho de “liberdade editorial”. Dá-lha. Ainda há uma palavrinha ou duas que se podem dizer a favor da democracia e dos bons costumes.
A possibilidade de conversas e discussões sem o tipo de mediações que, por exemplo, os jornais exigem. O que – colocando, é verdade, problemas particulares - é uma virtude em si. Tenho a certeza, por exemplo, que muito do que se escreverá hoje e nos dias consecutivos sobre o 11 de Setembro nos blogs será incomparavelmente mais pertinente e informado do que aquilo que poderemos encontrar na maioria dos media - que, para disfarçar a natural indigência, buscam ser subtis fazendo uma sociologia selvagem que é o disfarce fruste (às vezes nem isso) de um convencimento político “de esquerda” (e, mais do que “de esquerda”, do puro e simples medo de pensar). Aposto que nos telejornais de hoje vamos assistir a verdadeiros florilégios de sociologia selvagem. Com a boa consciência que o anti-americanismo e o anti-israelismo – é a sua razão profunda de ser - têm o dom de provocar. Como o interesse do exercício é puramente teratológico, confesso que não vou ver. E não é por má-fé: é porque já sei mesmo (um saber de experiência feito) o que iria ouvir, quase ao mínimo detalhe. Mas vou ler alguns blogs – e jornais, claro.
- Seguiu algum acontecimento nacional ou internacional através de blogues?
Todo o pós-11 de Setembro. Quem se lembrar o que era o grosso da cobertura jornalística, noticiosa ou opinante, das sequelas do 11 de Setembro (e não me refiro unicamente, nem sobretudo, à guerra do Iraque), percebe a lufada de ar fresco que veio dos blogs, de muitos blogs. Claro que, nos jornais, havia gente como Pacheco Pereira, Helena Matos, Diogo Pires Aurélio, Vasco Pulido Valente, Vasco Graça Moura, Francisco José Viegas, Esther Muznik, José Manuel Fernandes, entre outros, que, com várias diferenças entre si, não alinhavam na corrupção do espírito reinante. Mas eram uma minoria. De resto, a coisa pouco mudou. Os ataques a Israel e a resposta de Israel ao Hezbollah suscitaram na maioria dos media o mesmo estado de espírito que o 11 de Setembro: as vítimas do ataque eram, por definição, culpadas. E, mais uma vez, os blogs, muitos blogs, portaram-se muito melhor.
- Qual foi o maior impacto que os blogues tiveram na sua vida pessoal?
Nenhum. Enfim, um que não é exactamente “pessoal”. Quando Fernando Gil e eu (com Danièle Cohn) publicamos o livro Impasses, sobre o pós-11 de Setembro, foram os autores de blogs – o primeiro, creio eu, foi o Pedro Lomba, e agradeço-lho daqui – que começaram a falar do livro, no meio de um silêncio jornalístico nada inocente. E, mesmo quando o livro começou a ser referido nos jornais, as melhores discussões foram as dos blogs. Secundariamente, descobri também que, a par de maior liberdade de espírito (e melhor cabecinha), havia também gente que escrevia muito melhor que a média dos opinantes jornalísticos. O que, não sendo exactamente um prodígio, dá prazer.
- Acredita que a blogosfera é uma forma de expressão editorialmente livre?
Talvez por ignorância, não vejo como podia não ser assim, partindo do princípio que percebo o que quer dizer com “liberdade editorial”. O Luís não se sente “editorialmente livre” no seu blog? Isto, claro, não se permitindo decretar uma talvez apetecível fatwa contra inimigos políticos ou pessoais. Mas isso… O Luís permitir-se-ia, por exemplo, reclamar ardentemente terríveis medidas persecutórias contra a nutricionista totalitária Isabel do Carmo – que fosse forçada a usar o véu islâmico, ou a sofrer as indignidades costumeiras das mulheres no Islão, ou coisas assim? Não se permitia. Mas pode-lhe chamar “nutricionista totalitária”, se quiser. E bem, se me é permitida uma opinião na matéria. Mas o não se permitir a primeira coisa, e permitir-se a segunda, não lhe tira um milimetrozinho de “liberdade editorial”. Dá-lha. Ainda há uma palavrinha ou duas que se podem dizer a favor da democracia e dos bons costumes.
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Nos posts de baixo: entrevistas a Carlos Zorrinho, Jorge Reis-Sá, Nuno Magalhães, José Luís Peixoto, Carlos Pinto Coelho, José Quintela, Reginaldo de Almeida, Filipa Abecassis, Pedro Baganha, Hans van Wetering, Milton Ribeiro e José Alexandre Ramos. Amanhã: António Nunes Pereira, Arquitecto e Prof. universitário.