domingo, 23 de julho de 2006

Melancolias recentes (act.)

Man Ray
t
a) Os males de uma geração resumem-se, mais tarde ou mais cedo, a tudo. E porquê? Porque a própria ideia de geração é frágil e corresponde a um êxtase que havia de cortar inelutavelmente o tempo (e o vivido) em dois: um antes e um depois. Tal nunca acontece, daí a hemorragia, a dor e a estranha inquietação do olhar ao espelho. Pas grave.
e
b) Uma pessoa detecta factos, ausculta tendências e coloca algumas dúvidas. Há realidades anteriores à experiência que têm o peso da sobrevivência, eu sei. Há matérias que são tabu, eu sei. Mas a violência reactiva e jocosa pode entrar na arena e comer essa pessoa. Sem mais. Na guerra deixa de haver interpretação, eu sei. Quem o disse sabia bastante de fotografia, eu sei. Durante a guerra, saímos da interpretação e entramos na interpretose. Só depois da guerra é que os nomes voltam a ocupar o vazio deixado por essa pessoa. E quem a deglutiu, por suave necrofagia, tomar-lhe-á o espírito e compreenderá algumas das dúvidas. Uma pessoa nasce e morre muitas vezes durante a vida.
e
c) O que se diz, quando se diz “desproporcionado”? Diz-se que não se há-de dizer. Eu, por exemplo, creio que a palavra teria preenchido melhor alguns olhares que ficam exaustos sempre que se fala do 09/11.