e
A arquitectura telemática da rede (a cenografia flutuante onde também surge em cena a blogosfera) é muitas vezes entendida como determinante face ao que nela se move (a informação) e sobretudo face àquilo que é a própria rede aos olhos dos novos navegadores virtuais (a rede é um fenómeno que se objectiva naqueles que a agenciam).
Para estes novos internautas, a rede é sobretudo um agregado de procedimentos, de travessias rápidas e de conteúdos fugidios que visa algo, ou seja, que denota uma intencionalidade qualquer a que os próprios não são de modo nenhum alheios. A questão tem a sua raiz em Husserl: a consciência é sempre a consciência de qualquer coisa, na medida em que uma representação é inevitavelmente um acontecimento de cada agente, de cada pessoa, de cada blogger. O que se representa - a ideia de rede e o que ela visa - representa-se sempre a partir de um corpo onde se criam imagens que vão fazendo aparecer a consciência (a mente é um fluxo de imagens que faz aparecer a consciência).
A consciência do blogger - criada por sequências variadas e intensas de imagens também virtuais - está assim permanentemente a imergir nos circuitos da rede e a reinventar-se em situações que se desdobram e que (mutuamente) se iludem ou intertextualizam: a experiência da rede é tanto mais uma experiência do corpo e da mente quanto mais as simulações nela criadas se abrem a novos espaços e a novas séries de remissões. O corpo do blogger que se projecta na rede é, nesta medida, um corpo que se transforma numa viagem, num tele-rumo em cascata. As finalidades e os leitmotivs surgem nessa navegação como meios, os limites - a pele - como passagens entre zonas permeáveis e o olhar como propriocepção alargada.
Tradicionalmente, a propriocepção sempre se traduziu por uma consciência dos limites do corpo físico. Só que, neste caso, o corpo internauta passou a exceder de longe essa noção de corpo físico que permanece sentado a observar o ecrã onde o blogue se torna visível através de intermitências electrónicas. Esse lugar que se dá a ver através do ecrã do monitor e onde aparecem imagens e pré-escritas é, ele mesmo, o mostrar de uma consciência que está, ao contrário da consciência real, ligada clinicamente a uma soma indeterminada de muitíssimas outras consciências. Este misto cruzado de consciências em articulação com uma propriocepção aparentemenmte sem fim define o corpo protético do blogger.
É um corpo que parece crescer até aos confins não-lineares da rede. Uma massa de carne telepática cuja consciência excede fatal e desmesuradamente a consciência individual, já que é regulada por imagens de imagens que se propagam de maneira indefinida e duradoura.
O corpo protético do blogger pode ser decisivo para o entendimento da questão do “tom”, essa incessante procura que tem em vista adequar a expressão – baseada em sistemas clássicos - ao novíssimo medium (tudo isto se passa nos últimos segundos da história da espécie humana). Se o corpo protético do blogger decorre de uma forte vivência virtual e se a consciência do blogger é a fábrica plural de imagens originada por essa vivência, é natural que a sua expressão na rede (nos blogues) tente salvaguardar aquilo que é o seu espaço vital e a preservação mínima da sua identidade. Sobretudo porque a mobilidade da consciência (coligada a muitas consciências, como se viu) tende a diluir as fronteiras do espaço singular e pessoal. É por esse motivo que a apropriação do meio e das linguagens que o blogger domina terá que depender de uma fixação identitária mínima, cuo objectivo é separar o que é o espaço da sua própria escrita da voragem intertextual que a rede processa e consome.
Esta ‘luta’ em duas frentes é a mesma que Damásio ilustrou para caracterizar a construção da consciência: de um lado, o engendramento contínuo de imagens (incluam-se aqui também os padrões neurais e os mapas) para que a mente expresse o que se passa na relação entre organismo e ambiente; do outro lado, a experiência do “sentido si” que implica a certeza de que esses acontecimentos correspondem a experiências desse organismo real e não de um outro qualquer.
A expressão, ou, repita-se, a adequação dos sistemas comunicacionais tradicionais à nova arquitectura telepática que constitui a rede, será sempre uma batalha sustentada nestas dois campos: o campo da euforia (onde se inclui a novidade proprioceptiva e uma nova consciência plural e partilhada constituída por uma bola de neve de imagens) e o campo subjectivo (onde se tornam inevitáveis o apelo da individualização, a recusa da imersão patológica, a criação de uma intencionalidade e a normalização mínima das escritas).
Para estes novos internautas, a rede é sobretudo um agregado de procedimentos, de travessias rápidas e de conteúdos fugidios que visa algo, ou seja, que denota uma intencionalidade qualquer a que os próprios não são de modo nenhum alheios. A questão tem a sua raiz em Husserl: a consciência é sempre a consciência de qualquer coisa, na medida em que uma representação é inevitavelmente um acontecimento de cada agente, de cada pessoa, de cada blogger. O que se representa - a ideia de rede e o que ela visa - representa-se sempre a partir de um corpo onde se criam imagens que vão fazendo aparecer a consciência (a mente é um fluxo de imagens que faz aparecer a consciência).
A consciência do blogger - criada por sequências variadas e intensas de imagens também virtuais - está assim permanentemente a imergir nos circuitos da rede e a reinventar-se em situações que se desdobram e que (mutuamente) se iludem ou intertextualizam: a experiência da rede é tanto mais uma experiência do corpo e da mente quanto mais as simulações nela criadas se abrem a novos espaços e a novas séries de remissões. O corpo do blogger que se projecta na rede é, nesta medida, um corpo que se transforma numa viagem, num tele-rumo em cascata. As finalidades e os leitmotivs surgem nessa navegação como meios, os limites - a pele - como passagens entre zonas permeáveis e o olhar como propriocepção alargada.
Tradicionalmente, a propriocepção sempre se traduziu por uma consciência dos limites do corpo físico. Só que, neste caso, o corpo internauta passou a exceder de longe essa noção de corpo físico que permanece sentado a observar o ecrã onde o blogue se torna visível através de intermitências electrónicas. Esse lugar que se dá a ver através do ecrã do monitor e onde aparecem imagens e pré-escritas é, ele mesmo, o mostrar de uma consciência que está, ao contrário da consciência real, ligada clinicamente a uma soma indeterminada de muitíssimas outras consciências. Este misto cruzado de consciências em articulação com uma propriocepção aparentemenmte sem fim define o corpo protético do blogger.
É um corpo que parece crescer até aos confins não-lineares da rede. Uma massa de carne telepática cuja consciência excede fatal e desmesuradamente a consciência individual, já que é regulada por imagens de imagens que se propagam de maneira indefinida e duradoura.
O corpo protético do blogger pode ser decisivo para o entendimento da questão do “tom”, essa incessante procura que tem em vista adequar a expressão – baseada em sistemas clássicos - ao novíssimo medium (tudo isto se passa nos últimos segundos da história da espécie humana). Se o corpo protético do blogger decorre de uma forte vivência virtual e se a consciência do blogger é a fábrica plural de imagens originada por essa vivência, é natural que a sua expressão na rede (nos blogues) tente salvaguardar aquilo que é o seu espaço vital e a preservação mínima da sua identidade. Sobretudo porque a mobilidade da consciência (coligada a muitas consciências, como se viu) tende a diluir as fronteiras do espaço singular e pessoal. É por esse motivo que a apropriação do meio e das linguagens que o blogger domina terá que depender de uma fixação identitária mínima, cuo objectivo é separar o que é o espaço da sua própria escrita da voragem intertextual que a rede processa e consome.
Esta ‘luta’ em duas frentes é a mesma que Damásio ilustrou para caracterizar a construção da consciência: de um lado, o engendramento contínuo de imagens (incluam-se aqui também os padrões neurais e os mapas) para que a mente expresse o que se passa na relação entre organismo e ambiente; do outro lado, a experiência do “sentido si” que implica a certeza de que esses acontecimentos correspondem a experiências desse organismo real e não de um outro qualquer.
A expressão, ou, repita-se, a adequação dos sistemas comunicacionais tradicionais à nova arquitectura telepática que constitui a rede, será sempre uma batalha sustentada nestas dois campos: o campo da euforia (onde se inclui a novidade proprioceptiva e uma nova consciência plural e partilhada constituída por uma bola de neve de imagens) e o campo subjectivo (onde se tornam inevitáveis o apelo da individualização, a recusa da imersão patológica, a criação de uma intencionalidade e a normalização mínima das escritas).