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“Gato por lebre/ é uma boa descrição do anúncio propagandístico da refinaria de Sines pelo Governo. Um Governo que se compromete publicamente com o anúncio de um projecto sem ter garantido as condições mínimas e contratuais da sua viabilidade está a vender-nos gato por lebre. Está também a vender-nos gato por lebre quando ataca o empresário por propor condições inaceitáveis, que Governo e Primeiro-ministro deveriam ter exigido conhecer antes de tocar a trombeta da propaganda. O Primeiro-ministro agrava tudo isto com o seu tom insuportável de arrogância, como se não fosse ele a ter que nos prestar contas do logro.”
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Ao proferir “Gato por lebre”, Sócrates daria conta do (possível) procedimento do empresário Monteiro de Barros, mas dá certamente também conta do seu próprio procedimento face ao público. O jogo faz o post e a analogia sublinha a respectiva eficácia. Não há prólogo, nem desenlace, até porque a actualidade e a “arrogância” desenham o efémero e o permanente do quadro. A brevíssima encenação entreabre-se ainda à simulação de Sócrates (“como se não fosse ele a ter que…") e auto-intitula-se sintomaticamente “logro” já no final do extracto. É que o texto corre para fora de si, excerto de excerto de um outro texto sempre maior que neste se pressente (indução narrativa, “frame interpolation”). É esta tonalidade que faz de um post o misto de clímax e de simples apresentação: as figuras sobrepõem-se, adensam-se, mas só se tornam presentes em efígie e não em tratado. A enunciação faz do post uma entidade interina, passageira, como se fosse o nome de uma travessia. Como não terá o post que procurar um tom, ou, se se preferir, uma adequação expressiva, actual e maleável que se adeque a tal transumância? Na blogosfera só há presente.
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Ao proferir “Gato por lebre”, Sócrates daria conta do (possível) procedimento do empresário Monteiro de Barros, mas dá certamente também conta do seu próprio procedimento face ao público. O jogo faz o post e a analogia sublinha a respectiva eficácia. Não há prólogo, nem desenlace, até porque a actualidade e a “arrogância” desenham o efémero e o permanente do quadro. A brevíssima encenação entreabre-se ainda à simulação de Sócrates (“como se não fosse ele a ter que…") e auto-intitula-se sintomaticamente “logro” já no final do extracto. É que o texto corre para fora de si, excerto de excerto de um outro texto sempre maior que neste se pressente (indução narrativa, “frame interpolation”). É esta tonalidade que faz de um post o misto de clímax e de simples apresentação: as figuras sobrepõem-se, adensam-se, mas só se tornam presentes em efígie e não em tratado. A enunciação faz do post uma entidade interina, passageira, como se fosse o nome de uma travessia. Como não terá o post que procurar um tom, ou, se se preferir, uma adequação expressiva, actual e maleável que se adeque a tal transumância? Na blogosfera só há presente.