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“Tinha orgulho, nas suas mamas. Não por serem resolutas. Não por terem redondezas e extremidades, como as de uma de rapariga. Mas porque ao contrário do abdómen, das coxas e dos braços, ao contrário das pálpebras, do queixo e do nariz; ao contrário das carteiras Vuitton, dos lenços Hermès, dos casacos Balenciaga, ao contrário até do seu noivo eterno, pusilânime e fanfarrão, as mamas da Lizete eram verdadeiras. Honestas. Originais.”
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O “media res” faz um texto crescer em tensão sem que nos preocupemos de onde vem e para onde vai. Não é a finalidadade que lhe dá o tom, nem tão pouco a proveniência ou a putativa grandeza do seu “incipit”. O que o nutre é a inquietação permanente, a ambiguidade, o simples estar em curso. Há grandes exemplos destes excursos na literatura, tal como aprendemos a entendê-la no mundo moderno e sobretudo antes. Mas se há forma que se adequa à provisoriedade e suspensão da rede é mesmo esta: a deambulação orgulhosa da personagem, o seu perfume errante, a adjectivação entrecortada, o desvario nada liofilizado. O adiamento sempre presente da cena. A elipse resguardada na delonga. A flor e a sua alma de pixel. A "Lizete" tão protética quanto carnal.