terça-feira, 23 de maio de 2006

Tonalidades & casos - 14

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"Rocio Guirao Diaz/Mais uma descoberta Argentina. Modelo de altíssima qualidade…" (Aqui é só gatas)
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Passando pelo Blogómetro não é difícil entender a razão que leva certos blogues a serem os mais visitados de todos. São compostos por escritas e sequências de imagens pornográficas que recorrem ao novo meio blogosférico para evocar a mais antiga e ardente película do universo. O mais lido de todos (Aqui é só gatas) anda pelas quase 12 milhões de páginas visitadas. É particularmente económico sob o ponto de vista textual e, ao aventurar-se nos sibilinos territórios da escrita (“Mais uma descoberta Argentina. Modelo de altíssima qualidade…”), são as reticências que nele acabam por dizer quase tudo. Ou seja, as reticências - deixam de traduzir a habitual hesitação ou indecisão, para passarem a servir de ingénuo acepipe aos muitos leitores que aí acorrem como poderiam acorrer a qualquer outro lado onde o business e a (legítima) tentação dos néons falassem mais alto. Nestes blogues não há qualquer procura expressiva (o sentido está lá como estalactite na gruta, i.e., as coisas pertencem-se conaturalmente umas às outras). O que neles aflora é, ao invés, tudo aquilo que se mostra através do exibicionismo, cuja missão é justamente não mostrar objecto nenhum, ou seja, suprimi-los. O que se deixa ver na pornografia é o ininterrupto decorrer de imagens que denota a presença da carne (o bife e o sangue do velho Barthes). O sexo é aqui uma espécie de objecto encenável e manipulável que é capaz de transformar os elementos simbólicos e rituais presentes num mero jogo de cartas instantaneamente aberto ao jogador (é pegar ou largar!). E ele entra com facilidade no desejado jogo, sem burocracias inúteis, dialogando de imediato com o alarde dos seus próprios fantasmas. A mobilização é eficaz, plena e rápida.
A manobra de travessia do espaço da blogosfera está pois à disposição de todos, mesmo daqueles que não perdem tempo em pesquisas de um tom adequado ao meio, já que para eles o meio se limitará a despertar e a avivar os alvos e as finalidades pretendidos (mesmo no mundo off-line). Estes híbridos de turbo e escape à mostra cruzam todos os espaços da contemporaneidade e fazem do seu fluxo uma espécie de intemporalidade. Ao fim e ao cabo, é isso que está aqui mesmo em causa: a intemporalidade dos fantasmas (coisa tão sagrada e profana quanto a ideia de photogenie nos alvores oitocentistas da fotografia). Não deixa de ser curioso que alguns blogues denotem pudor e retirem os contadores para não aparecerem ao lado de tais monstruosas aparições. Sempre houve gente muito séria em todas as galáxias. Até nesta.
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Peço sinceras desculpas ao blogue O Vizinho pela precipitada análise que foi aqui levada a cabo. O Miniscente errou profundamente neste caso e não há como dissimular o facto. Tenho sido directo e franco na blogosfera e espero sempre continuar a sê-lo - assim os deuses e os amigos me ajudem, caro JPT! - na análise à blogosfera.
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Parece que os factos relativos ao blogue em análise me davam afinal razão (ver porquê na caixa de comentários). embora mantenha o que escrevi no caso do post concreto analisado.