quarta-feira, 17 de maio de 2006

Tonalidades & casos - 12

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“Etimologia hebdomadária
A palavra para hoje é nãotenhotemponenhumdesculpem.”
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Poucos blogues, mesmo eclécticos e variados, seriam capazes de viver tendo como base um tão abundante número de rubricas fixas (“Coisas que melhoram algumas vidas”, “Ninho de Cucos”, “Eu hoje acordei assim”, “Metabloggers do it better”, “Porque é que adoro Desperate Housewives”, “Estado em que se encontra este blogue”, etc.). Quando fez um ano de vida, escrevi aqui no Miniscente: “Ela é uma rara mistura de quotidiano subtil e humor voraz com profundidade consistente e sátira afectuosa”. Não sei bem se acertei, mas sempre me pareceu claro que um dos lados mais apolíneos do labirinto blogosférico morava neste cocktail em festa que fazia do limiar – repita-se, do limiar - do ensaismo, dos aforismos, da crítica, da crónica, do excerto, do jogo de sombras e da comédia com fantasmas próprios e alheios… um palco, ao mesmo tempo, maleável e consistente. Ao ter criado e sobreposto vários destes limiares, os géneros puros e duros apenas se iam pressentiam. Mas ao recriar - nas rubricas fixas - novos esboços de géneros, esse pressentimento clássico, já de si apenas uma silhueta ou um coro grego de simples limiares, rapidamente se transfigurou no que a Bomba realmente é: uma inteligência expressiva. Poucos são os blogues, de facto, onde a variedade de registos é menos a procura de um tom do que o exemplo claro do que são as virtualidades (no sentido restrito de ‘trazer à realidade’, mas à sua ‘realidade própria’) de um meio novo como a blogosfera. No post citado, a familiaridade torna presente a rubrica que se ausenta, ao mesmo tempo que a palavra encontrada (encantada) para o dizer faz da cátedra do título uma espécie de design efémero e apetecido. Há poucas paisagens assim: muito mobiliário urbano atraente e ainda mais e mais rostos de personagens que se transfiguram permanentemente (lembram Delvaux, embora com o vazio recheado pelo diletante contágio do tango).