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A influência da blogosfera no mundo é intensa, embora não seja a quantidade que o determina (a desmedida taxa de criação de blogues) mas antes o impacto em públicos com influência e poder de decisão. Daí que a adaptação das linguagens tradicionais ao novo meio blogosférico acabe inevitavelmente por reflectir esta tremenda pressão.
As linguagens escritas sempre se adaptaram a meios que pressupunham uma clara distância entre as circunstâncias de enunciação e os mecanismos de representação. O que é novo neste pulsar específico da rede - que é ocupado pelo mundo dos blogues - é o facto dessas circunstâncias e mecanismos se terem subitamente confinado a um mesmo tipo de tempo real. A vertigem que está em curso impõe assim sobre a linguagem que se exprime nos blogues moldes apertadíssimos, embora informes, às vezes quase invisíveis e sem grandes referências (seria interessante saber o que se passa com as línguas que dominam a blogosfera global, nomeadamente o Japonês e o Mandarim). Mas desde o momento em que a linguagem de um blogue se torna na linguagem de uma polémica que se cola aos poderes (e aí se intertextualiza), a malha expressiva desse blogue tende a reconverter-se, a recompor-se ou a reformatar-se sem ambiguidades (geralmente através de uma esquematização visual e temática que é sempre acompanhada por ingredientes do meio: a paródia, a deslinearização das remissões, o cariz elíptico, o recorte do fragmento, etc.).
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As linguagens escritas sempre se adaptaram a meios que pressupunham uma clara distância entre as circunstâncias de enunciação e os mecanismos de representação. O que é novo neste pulsar específico da rede - que é ocupado pelo mundo dos blogues - é o facto dessas circunstâncias e mecanismos se terem subitamente confinado a um mesmo tipo de tempo real. A vertigem que está em curso impõe assim sobre a linguagem que se exprime nos blogues moldes apertadíssimos, embora informes, às vezes quase invisíveis e sem grandes referências (seria interessante saber o que se passa com as línguas que dominam a blogosfera global, nomeadamente o Japonês e o Mandarim). Mas desde o momento em que a linguagem de um blogue se torna na linguagem de uma polémica que se cola aos poderes (e aí se intertextualiza), a malha expressiva desse blogue tende a reconverter-se, a recompor-se ou a reformatar-se sem ambiguidades (geralmente através de uma esquematização visual e temática que é sempre acompanhada por ingredientes do meio: a paródia, a deslinearização das remissões, o cariz elíptico, o recorte do fragmento, etc.).
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De acordo com um estudo do “Forrester Research”, limitado aos EUA, apenas 6% dos utilizadores da internet lêem blogues. Um outro estudo bastante recente, encomendado pela “Jupiter Research”, concluiu que a blogosfera, apesar do número relativamente baixo de leitores de que dispõe, acaba por ter uma influência razoável e até desproporcionada (“disproportionately large influence") na sociedade. Quer isto dizer que a influência dos blogues não se mede realmente pela quantidade, mas antes pelos públicos-alvo que cirúrgica e diariamente atinge.
O estudo feito para a “Jupiter Research” demonstra ainda que os utilizadores activos da internet constituem uma parte insignificante do total de utilizadores da internet, embora os meios ao seu alcance (posicionamento autorial, circulação de dados, propagação em rede, etc.) estejam a contribuir para condicionar as discussões no espaço público e mesmo para criar impactos comprovados nos hábitos dos consumidores (o caso da “AOL Music” aparece aqui como um exemplo fulgurante). Julian Smith, analista publicitário e um dos autores do estudo, afirmou a propósito ao Guardian (no passado dia 18 de Abril): "The strongest part of their influence (blogs) is on the media: If something online suddenly becomes a story in the local press, then it matters."
Embora o estudo divulgado pela “Jupiter Research” se concentre na Europa, é verdade que este tipo de constatação é clara no caso dos EUA, onde um leque variado de blogues de natureza sobretudo política - Instapundit, Daily Kos, ThinkProgress, Wonkette, Captain's Quarters, e RedState - tem uma poderosa influência na mediação pública, sobretudo por criar agenda (“breaking stories”) e difundir intensamente temas e discussões que os “mainstream media” acabam por não desenvolver ou até “ignorar”. Apesar deste tipo de blogues ficar aquém da audiência dos média tradicionais, não deixam, no entanto, de ser objecto de leitura atenta por parte de pessoas com autoridade no espaço público e com efectiva capacidade de decisão. Este novo paradigma de influência que está a ser gerado pela rede tem, além do mais, uma óbvia tendência para aumentar, como escreveu Tom Regan (“The CSM”): “According to an April 2006 report by the Pew Internet and American Life Project, 88% of 18- to-29-year-olds in the U.S. now go online, and 84% of 30- to 49-year-olds do so. The influence of the Internet is only going to increase”.
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De acordo com um estudo do “Forrester Research”, limitado aos EUA, apenas 6% dos utilizadores da internet lêem blogues. Um outro estudo bastante recente, encomendado pela “Jupiter Research”, concluiu que a blogosfera, apesar do número relativamente baixo de leitores de que dispõe, acaba por ter uma influência razoável e até desproporcionada (“disproportionately large influence") na sociedade. Quer isto dizer que a influência dos blogues não se mede realmente pela quantidade, mas antes pelos públicos-alvo que cirúrgica e diariamente atinge.
O estudo feito para a “Jupiter Research” demonstra ainda que os utilizadores activos da internet constituem uma parte insignificante do total de utilizadores da internet, embora os meios ao seu alcance (posicionamento autorial, circulação de dados, propagação em rede, etc.) estejam a contribuir para condicionar as discussões no espaço público e mesmo para criar impactos comprovados nos hábitos dos consumidores (o caso da “AOL Music” aparece aqui como um exemplo fulgurante). Julian Smith, analista publicitário e um dos autores do estudo, afirmou a propósito ao Guardian (no passado dia 18 de Abril): "The strongest part of their influence (blogs) is on the media: If something online suddenly becomes a story in the local press, then it matters."
Embora o estudo divulgado pela “Jupiter Research” se concentre na Europa, é verdade que este tipo de constatação é clara no caso dos EUA, onde um leque variado de blogues de natureza sobretudo política - Instapundit, Daily Kos, ThinkProgress, Wonkette, Captain's Quarters, e RedState - tem uma poderosa influência na mediação pública, sobretudo por criar agenda (“breaking stories”) e difundir intensamente temas e discussões que os “mainstream media” acabam por não desenvolver ou até “ignorar”. Apesar deste tipo de blogues ficar aquém da audiência dos média tradicionais, não deixam, no entanto, de ser objecto de leitura atenta por parte de pessoas com autoridade no espaço público e com efectiva capacidade de decisão. Este novo paradigma de influência que está a ser gerado pela rede tem, além do mais, uma óbvia tendência para aumentar, como escreveu Tom Regan (“The CSM”): “According to an April 2006 report by the Pew Internet and American Life Project, 88% of 18- to-29-year-olds in the U.S. now go online, and 84% of 30- to 49-year-olds do so. The influence of the Internet is only going to increase”.
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Muitos blogues que não têm estas características de impacto público imediato levam a cabo uma luta sagaz e permanente para tentar articular forma e matéria, ou seja, para inventar (e criar) uma conformidade entre a inscrição diária e a nova matéria de que é feito o meio subitamente colocado à disposição de milhões de cidadãos de todo o mundo. Este percurso expressivo global (e variadamente local), de que não me tenho cansado de salientar a importância na comunicabilidade contemporânea, constitui um aspecto decisivo dos destinos pessoalizados, e não apenas processados, que ocupam a rede.
Muitos blogues que não têm estas características de impacto público imediato levam a cabo uma luta sagaz e permanente para tentar articular forma e matéria, ou seja, para inventar (e criar) uma conformidade entre a inscrição diária e a nova matéria de que é feito o meio subitamente colocado à disposição de milhões de cidadãos de todo o mundo. Este percurso expressivo global (e variadamente local), de que não me tenho cansado de salientar a importância na comunicabilidade contemporânea, constitui um aspecto decisivo dos destinos pessoalizados, e não apenas processados, que ocupam a rede.
Tendo como certo que a net vai continuar a crescer e que os blogues são, nessa inevitável onda de crescimento, uma das linhas de fuga mais activas e influentes, é normal que as expressões e codificações que se estão neste momento a redescobrir venham a dar à mediação pública mundializada novos rostos e novos formatos (hoje imprevisíveis).
Esperemos mais uma década e estou certo de que esta profecia se tornará em realidade.