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Questão interessante, a do ”tom” dos blogues. O ”tom” não é o estilo, nem é a modalidade estável de inscrição que se procura (ou procuraria). Não, quando se fala do tom dos blogues como ”indefinição” que normalmente percorre a história de um blogue ao fim de três anos de vida (é o caso da larga maior parte dos compagnons de route do axial 2003), está-se sobretudo a falar de um corpo que vive no botequim da nova S. Marcos global a reinventar o comentário, a crítica, a intriga, a narrativa, a poiesis, a alegoria, a sátira ou a paródia. O que está em causa é a multitude de géneros que nos blogues supera e atravessa a arca expressiva e dividida que involuntariamente herdámos. O que está em causa é a afirmação inorgânica, provisória e instável que é própria dos blogues (há um design efémero, mas fértil, na força elocutória da blogosfera). O que estará em causa é a aproximação entre o que hoje em dia se designa por ”endorsement” publicitário e a clássica pseudonímia “ex eventum” dos velhos textos proféticos: há vozes e presenças que se descontextualizaram e que hoje são a própria pele dos blogues. O “tom” dos blogues é um tema capital para entender esta longa marcha de três anos. Quando dantes se dizia que o “meio” era tudo (que interessavam as mensagens!), hoje, na casa da blogosfera, dir-se-á que o “tom” é quase tudo. O “tom” é, afinal, um renovado desígnio apocalíptico, na medida em que traduz a ‘grande visão’ que o blogger tem desta enigmática, ilusória e ilimitada continuidade que é o campo (comunicacional) onde a blogosfera se enuncia. Voltarei ao tema.