sexta-feira, 7 de abril de 2006

O fluxo

e
Recomeçou a euforia das férias. Há um verdadeiro ardil na cidade. Faz-me lembrar as asas agitadas do canário bico de lacre: bicho branco, branquíssimo, mas com a excitação avermelhada a revoar-lhe os olhos. Comprei livros, errei pelas ruas e, antes de dar as últimas aulas, entrei numa agência de viagens. Existem de facto extra-terrestres que chegam ao planeta com semanas ou meses de atraso. A menina fixa-me os olhos, levanta o lábio e escarnece do figurão com íntima e sincera aleivosia: "Bilhetes para Cabo Verde, hoje, a esta hora!?" - Sorrisos, sorrisos doces como se eu fosse pató. Estamos sempre a aprender. Moral da história: talvez vá ver uma procissão a um qualquer pueblo andalus; sempre há-de haver um hostal desconhecido e duvidoso à beira da estrada, como se o destino sem rota fosse a Las Vegas de Mike Figgis. Ou será permitido, por exemplo, ficar em casa, sossegadinho, a ver o Canal Odisseia e a ler a Ignorância do Kundera?