terça-feira, 24 de janeiro de 2006

A comoção do ócio perdido

Edward Steichen

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Quando o Flatiron era um solitário (foto de 1904, embora impressa em 1909). Um século depois, o que é que esta imagem respira? Um tédio que apetece rasgar ao sabor do ócio sem fim. É a minha memória, mas é também a minha imagem do dia. E ambas se confundem. Lembro-me de ter ido comprar, numa livraria das redondezas, dois livros sobre G. Vico. Estão agora ali em minha frente na estante. Não havia ninguém nos passeios, era um sábado à tarde, e o calor do início de Junho estava mais do lado do ócio profundo do que de qualquer brilho entediado. Depois, veio a noite e com ela a redenção mais involuntária que volto a pressentir no olhar de Edward Steichen. Afinal, há uma mesma noite a cruzar o simples parapeito que liga dois séculos.