O Portugal deste Outono-Inverno tem alimentado querelas e desafios particularmente prometedores. Para além da soberba felina de Soares, da altivez pacata de Cavaco e do centrismo homérico de Alegre - todos a tentarem antecipar o suave Carnaval dos pobres de espírito -, nada como um verdadeiro sonambulismo metafórico-utópico que tem dominado, de lés a lés, a campanha eleitoral: "dormir descansado vs. não dormir descansado" tem sido o refrão assinalado e muitas vezes sublinhado pelo restante duo de candidatos seminaristas. Para compensar o ritmo alucinante do debate, lá fomos todos brindados pelo êxtase de João César das Neves e pela extraordinária polémica dos crucifixos. Contudo, o riso malandrote, se existe, brotará tanto do patrono do êxtase como daqueles que com ele se têm envolvido na mesma arena de disputas, canonizando-se quase sempre no limiar da paródia (como se ser livre fosse apenas matéria de decreto-lei).