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Acabei há pouco de ler o livro na íntegra. Deixo, nas linhas que se seguem, algumas opiniões dispersas e enunciadas quase em tempo real:
a) Gosto da dimensão do livro, particularmente ligada ao ethos da primeira pessoa, que enaltece a ambição, o narcisismo, a confiança, o deslumbre e a coragem. Esse aspecto, o mais detestado pela gíria dos leitores locais (pelo que tenho reparado), tem muito mais importância do que os factos que são relatados, sobretudo quando querem assumir alguma pertinência na cenografia histórica da época radiografada.
b) A referência ao “voyeurismo”, que já vi insistentemente inscrita em blogues e na imprensa escrita, também não me parece ter grande razão de ser. Para que se olha, quando se olha para dentro deste livro? Creio que se contempla a errância e o fluir entre vias que jamais se dissociam de alguma desordem (o que acontece em todas as vidas). Como refiro no post de baixo, as elipses que legitimam a montagem deste livro não serão talvez as acordadas pela expectativa habitual de quem se relata a si mesmo. Mas não deixam de ser elipses e o enredo não deixa de ser montagem e construção.
a) Gosto da dimensão do livro, particularmente ligada ao ethos da primeira pessoa, que enaltece a ambição, o narcisismo, a confiança, o deslumbre e a coragem. Esse aspecto, o mais detestado pela gíria dos leitores locais (pelo que tenho reparado), tem muito mais importância do que os factos que são relatados, sobretudo quando querem assumir alguma pertinência na cenografia histórica da época radiografada.
b) A referência ao “voyeurismo”, que já vi insistentemente inscrita em blogues e na imprensa escrita, também não me parece ter grande razão de ser. Para que se olha, quando se olha para dentro deste livro? Creio que se contempla a errância e o fluir entre vias que jamais se dissociam de alguma desordem (o que acontece em todas as vidas). Como refiro no post de baixo, as elipses que legitimam a montagem deste livro não serão talvez as acordadas pela expectativa habitual de quem se relata a si mesmo. Mas não deixam de ser elipses e o enredo não deixa de ser montagem e construção.
c) Considero mesmo cretino o modo epicizante com que a crítica tem apresentado o livro, como se fosse um inusitado zepelim a irromper na invicta névoa de uma aldeia subterrânea (leia-se o texto da Livraria Leitura sobre o livro: “Num país conservador, católico e hopócrita, o tom cru deste livro poderá chocar”). Numa era em que a dicotomia público vs. privado está clara e celeremente a mudar de sentido (a par de outras dicotomias, tais comos real vs. ficção, verdade vs. sentido, etc.), creio que esses anúncios publicitários são ridículos e mesmo paroquiais.
d) Diria ainda - e esta intuição é polémica e potencialmente injusta - que há neste livro um 'ultra-fascínio' pela redenção inglesa que é mais própria de uma mitifação local (e algo ressentida) do outro do que de uma genuína incorporação e produtividade da tradição estrangeirada. (mas esse factor apenas adensa o interesse peculiar que o livro contém).
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Por baixo fica a impressão, ainda a meio da leitura, de um livro que considero importante (haverá um misto de razões para esta opinião, não literárias ou históricas, que deixo para reflexão posterior).
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(Se este livro simulasse ser um romance que tivesse transposto e mascarado acções, nomes e factos, seria um romance sem qualquer tipo de encanto. A atracção real que o move advém de um outro tipo de ficcionalidade em que se batem a voluntariedade da narração e a involuntariedade da memória)