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Num dos lados do Atlântico, muitos foram secularmente os que entraram sem quaisquer promessas de subvenção e, apesar disso, a história das Américas foi lentamente abrindo um lento, real e, bastantes vezes, arriscado leque de possibilidades e de oportunidades. No entanto, saber a que mundo se pertence, mesmo se recheado de clivagens e de aberturas incertas, é já uma grande vantagem para a integração natural (não intelectualizada ou sonhada nos laboratórios "multiculturais").
Noutro dos lados do mar, muitos foram também os que entraram e, de um dia para o outro, viram os seus filhos nascer num mundo desenhado pelo peso do estado, pelas subvenções e sobretudo pelo fechamento tradicional. Diga-se que não saber a que mundo se pertence é um dos maiores e mais terríveis espectros da história (os mouriscos expulsos de Espanha, no início do século XVII, constituem a esse respeito um exemplo tão esquecido quanto extraordinário).
Estas são duas das formas - entre algumas outras - de entrever o mundo contemporâneo e futuro, mundo onde a mistura global faz e fará, cada vez mais, a sua própria lei. Não há, em nenhum dos casos, soluções perfeitas. Contudo, creio que a Europa vai ter que parar para pensar. Sempre que a Europa parou, nos últimos anos, foi porque bloqueou e não porque quis renascer numa direcção mais adequada.
Talvez seja por isso que o reverso da al-Qaeda se está agora a manifestar nas áreas da Europa que, nos últimos quatro anos, mais relativaram o perigo hiperterrorista. É sintomático que o calcanhares de Aquiles seja o primeiro a ceder. Reimaginar a democracia como modo de garantir a liberdade é, hoje em dia, também, repensar o modo como a Europa rica pensa, ou não, continuar a comprar a diferença, as minorias, a pobreza e as inevitáveis desigualdades. Há coisas que não se compram. Mas há coisas que se pagam. Inquestionavelmente.