terça-feira, 11 de outubro de 2005

Autárquicas - 6
e

Mark Power
e
Acabou a campanha e acabou também o leque de dissimulações que acompanhou a noite eleitoral. Subitamente, um silêncio glacial percorre o vestígio puído dos cartazes e o eco ainda turvo dos discursos. À ficcionalidade afectada, sucede agora a patética imobilidade das paredes vazias. Ciclos embaciados, desfocados, sem fronteira certa entre si. Para que o recolhimento fosse quase perfeito, eis que a chuva veio ajudar o novo sigilo a conformar-se com a respiração que ainda sobra para além de imagens e palavras de ordem vazias. O que restará, portanto, à intensidade encenada desde o início do verão? A simples memória do espectáculo, a mnemónica dos rostos salvadores, a chama das paixões sem qualquer objecto, ou, tão-só, o esbanjamento de uma espécie de redenção sempre e sempre adiada?