Contra a Comunicação
Tenho tentado acompanhar, embora de modo não obsessivo, o pensamento estético (e também político) de Mario Perniola. Foi por isso que ontem fui levado a comprar o seu último ensaio, Contra a Comunicação (Teorema), que saiu em Itália o ano passado e que acaba agora de chegar às bancas portuguesas através de uma tradução de Rui Miguens Almeida.
Ao contrário de Peter Sloterdijk, cujo cepticismo tem gerado uma crítica da contemporaneidade livre e descomprometida, Mario Perniola parte, neste seu último livro, de uma inabalável crença no conhecimento (no sentido tradicional da positividade moderna) que opõe à comunicação. O que não quer dizer que a caracterização do estádio comunicacional em que vivemos não mereça uma análise interessante, original e pertinente neste seu Contra a comunicação (vale, de facto, a pena ler).
Mas a verdade é que essa análise já é precedida por uma posição apriorística, ou melhor, por um compromisso de valor. Daí o carácter antinómico que, infelizmente, acaba por atravessar e fragilizar este seu último livro (contrariando, aliás, a feliz epígrafe de Heidegger que o acompanha: “O papel do polemista não é o do pensamento, pois o pensamento só pensa quando acompanha aquilo que fala por uma coisa”).