Reminiscências – 2
Uma vez a televisão holandesa telefonou para a minha casa já bastante tarde e fez com que eu, no dia seguinte, me levantasse às 5 da manhã para voar até Paris. A minha súbita função, nesse dia solar de 1988, imagine-se, era a de tradutor. E quem era o imprevisto entrevistado?
Nem mais nem menos do que o chefe da polícia de S. Paulo que, na altura, fazia trânsito no Charles De Gaulle a caminho da Alemanha onde ia sujeitar os presumíveis ossos do nazi Josef Mengele a testes de DNA.
Lembro-me como ao calvinismo exigente e austero do jornalista holandês correspondia um humor desbragado e sobretudo intraduzível por parte do brasileiro. Embora a circunstância fosse considerada histórica pela AVRO (era esse o canal holandês), eu contive-me extremamente para que a tragédia cómica não se sobrepusesse à indagação tida como objectiva.