Crescente poético luso - 6
E o que dizer deste actualíssimo poema de Ibn Sâra de Santarém (m. 1123)?
Final de um panegírico, queixando-se dos impostos
Desde o momento em que passaste pela sua mente,
vejo que a nobreza, apaixonada,
te segue pelos vales do temor de Deus,
e vai ao teu encontro dizendo “Vem a mim !”,
como a jovem a quem o seu amigo faz sofrer.
Também eu, para me dirigir a ti,
passo ao largo entre as pessoas
sem visitar nobres ou plebeus.Venho queixar-me a ti
- e não é vergonha um enfermo
querer curar as suas dores e queixar-se:
os impostos levaram
a juventude da minha cabeça
que chora cada vez que luz
o sorriso dos cabelos brancos,
e os meses em que os juros
vencem os seus prazos
me deixam posto a nu por completo.
A lua já não brilha diante destes meus olhos
que, com os primeiros cabelos brancos,
ou com o peso dos dirames, se forjaram;
ao ter que pagar os impostos, pareço cintilar e por isso
maldigo o firmamento e as estrelas.
(tradução de Teresa Garulo, sendo minha a fixação da versão portuguesa; Proj. Práxis nº2/2. 1/CSH 7750 795)