O suave retorno
O “apocalíptico” sempre teve como base uma ficcionalidade que levaria o homem a escalar pelos céus para poder ver Deus com os seus próprios olhos e perguntar-lhe: “Afinal como é? Que sentido é que isto tudo tem?”. E já se sabe que, na descida à terra, a profecia daria conta da mensagem concertada, perfeita e inabalável.
Esta “visão” (é esse, afinal, o significado de “apocalíptico”) foi, hoje em dia, substituída pelo modo como as imagens globais nos submergem e falam através de nós em terminais que, simultaneamente, sugerem transcendência e tempo real.
E quase tanto faz que as figuras tornadas visíveis, nesse universo de pixels sem fim, correspondam ao Papa, a Rainier, ao Euro, a Camila, à Expo ou ao Porno. O que interessa é estar lá: na abismada "visão", no retorno suave ao apocalíptico.