quarta-feira, 9 de março de 2005

UM AMOR CATALÃO
Folhetim à moda clássica
DÉCIMO SEGUNDO EPISÓDIO
(A esperança após o silêncio)

Vi ali o instante de tudo ou nada, a hora H. Era aquele o momento preciso em que eu devia quebrar a minha inércia, o meu arrepio, o meu estorvo, para passar a esboçar e a pronunciar o tal gesto decisivo, o tal hiato irrepetível que fosse capaz de quebrar a fleuma da hesitação.
Mas quando ia avançar, Albe adiantou-se-me com a serenidade quase pré-rafaelita da sua expressão e disse: - Se se reparar bem, os problemas começam, quando se acaba um curso. Não é só uma questão de emprego e de ocupação, mas é, sobretudo, uma questão de motivação. E eu desconfio que tenha, neste momento da minha vida, qualquer motivação ou vocação especial para seguir uma carreira de advogada, está a entender ? - e eu a entender lindamente, a contracenar com gáudio e logo, de imediato, a acolher a generosa confissão com sábia proposta, já Albe partia para se sentar à mesa dos pais:

- Encontramo-nos, logo à tarde, na praia ? - Albe suspendeu o universo inteiro de ponta a ponta, silenciou a resposta, corou ao de leve e, no momento de avançar em direcção ao aquário, já à entrada da sala dos pequenos almoços, virou-se repentinamente para trás e disse:

- Às três, no Avuello. Está bem ?

Conseguira.
Faltava agora apenas destruir o resto do tédio e escalar a alta torre de marfim. Contra a minha desesperança. E nada iria ficar como dantes, confessavam-me as estrelas, o mar e a minha secretíssima nuvem.

- Mas que nuvem ?

(No próximo episódio, a história regressará ao quarto do Hotel Penta onde, muitos anos depois, Edmundo está prestes a ouvir a inusitada e inesperada confissão do seu amigo António Romeu. Nas terras catalãs do final dos anos sessenta, as estrelas ficam, por agora, em suspenso. Ficarão, porventura, à espera de mais umas quantas mensagens dos leitores. E ficarão igualmente encantadas, na sua luminosidade, com o novo céu e com os inúmeros novos limbos que o Miniscente passou a dispor desde ontem. Já os visitaram, por acaso?)

Continua
*
(publicação da versão Inglesa no blogue Minion)