A “esquerda” das exigências: o embuste
Dizem os jornais que o grosso da oposição a este governo se situará à esquerda.
É bem possível.
Há, no entanto, um argumento que parece querer cimentar este facto e que tem a sua origem no mais recente discurso do PCP e do BE.
Com efeito, estes dois partidos argumentam, às vezes de maneira quase imperativa, que o PS “tem que” fazer isto ou aquilo, porque uma “larga maioria” dos portugueses confiou o seu voto “à esquerda”.
Este aceno está impregnado de falácias. Resumi-las-ia em apenas três:
a) o PCP e o BE desejariam com este embuste enquadrar o voto do PS nos desígnios que são os seus como se a palavra “esquerda” fosse um denominador comum a três, o que toda a gente sabe que não é minimamente verdade;
b) o PCP e BE tornam, deste modo, a “esquerda”, não numa geometria de valores, como deveriam defender nas suas próprias perspectivas programáticas, mas no mero “incipit” instrumental de uma narração onde tudo e todos se reduziriam a uma categoria monolítica e inevitavelmente sujeita a uma minoria.
c) o PCP e BE esquecem deliberadamente que a palavra “esquerda” (com que argumentam) não é senão a “esquerda” que existe na linguagem dos respectivos partidos e que nada tem a ver, portanto, nem com os propósitos do governo de Sócrates, nem muito menos com o programa e com a praxis eleitoral do PS que, como se sabe, ancorou claramente ao centro.