É de novo manhã. Edmundo desce até ao hall e nem repara na jarra de cristal, alta e envidraçada, que mais parece uma devoradora labareda a desafiar a vasta montra, de onde se vê a piscina.
A noite trouxe-lhe visões de carris em ladeiras inclinadas, rios pousados no olhar demorado das amazonas, vozes ocas em surdina através de palanques e, do outro lado desse troar profundo, entre heras desfiadas, Edmundo ainda a sondar as luzes do hotel, a sarabanda das varandas e da folhagem que só daria sinal de si, a altas horas, já a brisa do Mediterrâneo a tal se permitia.
Antes de avançar para a sala dos pequenos almoços, Edmundo, acabou por aquietar todos os abismos, no momento em que viu noticiada, na primeira página do ABC, a invasão da Checoslováquia.
Nesse brevíssimo instante, o português atirou-se para o sofá e quase esqueceu a porta do elevador, mesmo à sua frente.
Albe sai do banho, passa pela toalha, veste o pijama branco de columbina e imagina duas grinaldas no cabelo, além de uma rosa vermelha e sem espinhos a desenhar-lhe a boca. Sorri na direcção da varanda e espreita, depois, entre persianas delongadas, o azul mais-que-perfeito do mar em estado de falsa mansidão.
São palmeiras abertas e um papagaio, e são horas do sono confundidas com a imprevista aparição de casas claras, quase brancas, e, por cima, vasos com rama frondosa e um santo popular de olhos muito verdes.
- Que horror, onde é que eu já vi uma coisa destas ? - Albe olha em volta, rodopia em círculo, dança e quase entontece até voltar a rir para si, a sós.
Que terá acontecido?
(No próximo folhetim, Edmundo e Albe estarão finalmente face a face)
Continua
(publicação simultânea da versão matricial em Inglês no blogue Minion)