Jogo - 2 (mostrar a vida privada?)
O acto de“Mostrar” nem tão-pouco existiria, se todas as virtualidades de “y” que se quisessem “mostrar” alguma vez se imaginassem expostas à luz do dia.
Como disse Vattimo, glosando Gadamer, “o ser que pode ser compreendido é linguagem”. É, pois, natural que, em época de incremento radical de linguagens especializadas e de enunciados fragmentários tipo zapping, o que haja a “mostrar” sejam tão-só imagens de imagens que, por sua vez, se subsumem a vestígios de imagens de imagens. Fluxos ficcionais mundializados ou regionais. A coisa é realmente homóloga ao mundo de imagens da nossa mente que Damásio tão bem explicou em O Sentimento de Si (sobretudo na concatenação dos relatos de imagens que se processam entre os níveis do "proto-si", da "consciência nuclear" e da "consciência alargada"). É por isso que a vida privada, esse conteúdo complexo, essa labiríntica rede de fenómenos de um determinado quotidiano, não pode jamais ser “mostrada” como um absoluto. Pelo menos do modo antinómico - e um pouco preto no branco - que pressupõe a oposição entre “mostrar em público a vida privada” e a necessária implicação de ausência dessa mesma “vida privada” (ainda por cima sob conjectura algo legitimadora de uma dada teodiceia).