segunda-feira, 10 de janeiro de 2005

Sinal dos tempos

Com linguagens diferentes, cada vez mais a opinião de crédito aparece apostada numa clara mudança de sistema político. A crítica recai na inevitável cegueira atribuída aos deputados que são eleitos sem qualquer relação concreta e vivida com o eleitorado. Eleitos em nome de uma abstracção geral e universal, a “nação” ou o “povo”, os nossos deputados não respondem perante nada, a não ser perante a doxa imprimida nas sedes partidárias em nome da conjuntura estreita, da antecipação serôdia ou do truque previsível. É assim, goste-se ou não.
Para piorar a já débil qualidade do nosso actual formato democrático, desta feita as listas mostraram-se claramente apressadas e deficientes, tendo perdido o carácter diáfano ou dissimulador que antes ainda denotavam. Um passo de pelicano em vez do clássico pudor da rã.
Para agravar a situação, vamos ter, em vez de um único partido falso - os verdes (que permitem esconder a foice e o martelo aos comunistas) - o razoável número de quatro (anunciam-se como outros apêndices, respectivamente, o Partido da Terra, o Partido Popular Monárquico e ainda a chamada Renovação Comunista). Faça-se justiça ao partido de Manuel Monteiro - e aos outros todos, MRPP incluído - que, pelo menos, se apresentam de corpo inteiro e sem taras perdidas.
Adivinham-se, na próxima Assembleia da República, debates intermináveis, retóricas repetitivas e secas, linguajares áridos, metáforas pastosas, argumentos estéreis e horas e mais horas de debate infrutuoso. Uma casca de banana luminosa a suscitar um swing saudável e apetitoso a todos os descrentes e inimigos da democracia.