segunda-feira, 31 de janeiro de 2005

Média e terror


AFP

Mark Bowden escreveu um excelente artigo na Atlantic de Dezembro passado sobre a cooperação entre os média e o terrorismo. Aí se reflectia sobre a relação entre a estratégia das imagens globais que as redes do terror passaram a usar no pós-2001 e a inocente capitulação dos média ocidentais face a esse plano (incluindo o tempo da antena associado aos sucessivos raptos do final do ano passado). A certa altura, Mark Bowden escrevia: "Leading the news with acts of terrorism is often both journalistically unwarranted and - assuming that decent people everywhere would like to see such acts cease - tragically self-defeating".
Vem isto a propósito das notícias que ontem as rádios e as televisões foram difundindo a partir do cenário iraquiano. Em vez de relevarem a adesão da população às urnas de voto - e o significado real dos números narrados -, muitas vezes os dez ou quinze actos terroristas do dia foram noticiados com mais realce. Já sem falar, também, do tempo dado à GNR portuguesa. Como se o pano de fundo do que se estava a passar coincidisse mais com a presença da al-Qaída do que com a mobilização activa de mais de oito milhões de eleitores. De facto, voluntariamente ou não, muita gente neste mundo terá ontem praguejado para que tudo corresse mal. Mas não foi assim.