domingo, 23 de janeiro de 2005

Dominações vs. ilusões - 1

O estado alucinogénico, tão na moda há umas quatro décadas, permitia viajar ao longo da propagação electrónica. O real e o não real separavam-se ainda, embora se separassem já menos do que acontecia antes com o paraíso e a vida terrena.
Hoje, a tendência é cada vez mais híbrida: real e não real a fundirem-se e a sobreporem-se, enquanto a alucinação tácita e socialmente consumada do virtual (e do seu embrião chamado zapping) se perfila em vez do velho alucinogénio.
Os expressionistas não viam, tinham visões. Hoje somos todos expressionistas, mas com uma diferença: em vez de visões, vamos tão-só visionando. Como se isso fosse apenas ver. Por sobre este diáfano aparelho de linguagens e de convicções desmontadas, vamos falando, vamos blogando, vamos pretensamente opinando.
Mas o rei vai nu.
Pessoa bem dizia que o mito era esse "nada que é tudo", como se fosse "o corpo morto de Deus/ vivo e desnudo". Lembram-se?