Em leituras
Antes de arguir uma tese, sigo caminhos mais ou menos estáveis. Leio primeiro, de modo oblíquo e metonímico, algumas linhas-chave da tese no sentido de lhe captar uma espécie de escorço do seu topic. Depois, durante alguns dias, levo a cabo leituras no âmbito desse topic, mas sem uma orientação claramente definida. Releio coisas diversas, mas tento sobretudo alargar e interrogar a esfera do conhecido. Não me circunscrevo, portanto, aos lances que delimitarão a geometria da tese, acabando por construir um sistema volátil de problematização. Às vezes, faço-me acompanhar dessa armadura conceptual (espécie de um modelo teórico abastracto) por mais de duas semanas. É um espaço branco que faço povoar de perguntas e respostas (puro jogo onde o simulacro de um futuro debate se reverte agora em prazer). Até que chega o dia H. É então que me sento e passo a ler a tese, de fio a pavio, anotando todos os detalhes. O meu comentário e o meu questionário acabarão por nascer do são confronto entre as ponderações que antes haviam entrado em cena: as que se haviam constituído antes da leitura da tese e, de modo mais sedimentado, as que resultaram da sua leitura. As verdades vêem-se ao espelho e têm muitas facetas. Inesgotáveis, talvez.