Zás
Às vezes, acontece. Zás. A matéria impõe-se à forma. O texto mergulha no texto, cria ondas de choque, adquire modos de montagem totalmente imprevistos e rema para a frente, em várias direcções, completamente alheio ao teor da manipulação griffithiana. De repente, tal como em alguma arquitectura nórdica onde o encaixe dos materiais gera por si a robustez das linhas de força, também na escrita o sentido resulta mais do ímpeto com que o texto força e penetra o plano, a investigação, a agenda e a sucessão do que outra coisa qualquer. O sentido torna-se então numa rebentação que se desfaz e que volta depois a reencontrar-se. Às vezes, gostava de não fazer outra coisa. Deixar universidades, ensaios, arguições e tudo o mais. Apenas escrever. De braço dado com aquele epicurismo que salva o olhar da miopia quotidiana.