domingo, 15 de agosto de 2004

Ficcionalidades de prata – 26


(The Town on the Hill, New Almaden, Carleton E. Watkins, 1863)

Talvez o esforço espreite, ano após ano, a medida que o imaginou. Diz-se que é um sacrário de pedra para quem ali abriu os olhos pela primeira vez. O tempo parece paralisar o que dele mesmo se avista, tal é a imobilidade das passagens que serpenteiam a imaginação e o labirinto infinito da montanha. Nascer para ficar, crer para ser. Há neste esforço de fixação um imenso desnível entre o edificado e a retórica da matéria. Pela frente, há sempre um bardo que exclama o seu poema através do acidente, do imprevisto ou do enrugamento milenar. Há forças antiquíssimas que não cabem no traço mais íntimo de um sorriso. E apesar de tudo isso, o corpo sustenta a medida e o cálculo, nem sempre ponderado, com que carrega a história e o indiscutível fascínio pelo seu próprio lugar. O território é esta obstinação, este afinco, esta nítida teima dos deuses menores. Ou maiores?