sexta-feira, 16 de julho de 2004

A saudade e a penumbra
 
Ontem cruzei-me com uma pessoa na rua e tive a sensação de que a conhecia há muito. Sorrimos, eu e ela, e o brevíssimo hiato passou. Já lá vai. Sempre terá pertencido a outro tempo, a uma outra duração mais ou menos paralela. Como se fosse uma fotografia invertida, um tivesse sido e não um ter sido. Imagem de dúvida alvitrada a partir de um futuro que seria redentor, e não apenas o habitual infinitivo preso a um passado barthesiano que exala e vive do percurso removido que transborda. Um encontro não pensado e totalmente imprevisível pode tornar-se assim no oposto de uma fotografia. É tangível (e não indexical), é metafórico e fantasioso (e não metonímico e testemunhador), é fulgurante e único (e não suspenso ou inevitavelmente bipartido entre representados e representante). Já lá vai. Quem seria?