domingo, 25 de julho de 2004

Hoje, a um mês dos cinquenta



Domingo de frescura. Como salada com queijo feta, leio Amos Oz, trago oito lieder de Schubert para o escritório e volto a encarar o céu travejado pela bruma ácida, poeira lentamente gorgolejada pelos deuses. De hoje a um mês, parece mentira, faço cinquenta anos de idade. E juro que, apesar disso, há um puto destravado a correr entre as largas e desconhecidas veredas da consciência. Eu disse consciência? Há dias para a expiação da ternura. Tragédia que se consome no humor, ou no exagero da paródia em que se dilui o tempo. Admirado, eu? Talvez. Mas não o suficiente para que o pudesse confessar. Aprendi a não ser esquemático, a não perseguir mestres, a não produzir registos apenas para dar corpo a um outro corpo já prévio. Talvez seja isso a juventude: um ver que faz a ver se dá. Depois vem um ver que dá a ver se faz. E nem sempre faz. Sob o calor magnífico, garanto que a macieira é mais sábia do que tudo o resto. Domingo de frescura. Como saladas, leio ainda Amos Oz, sorrio para a superfície parada da água, revejo ao longe as alvenarias por caiar, penso em ti. Sem nome. Sem tédio. Pronome da segunda pessoa, face a mim. Do outro lado da confissão nascem todos os deuses. Sem excepção, ó sol!