quarta-feira, 2 de junho de 2004

Pragmatismos

Numa carta publicada pelo Causa Nossa e assinada por Henrique Jorge, C. Peirce (com o nome de Pierce que, como se sabe, é outras coisa) e W. James aparecem citados como mentores de um certo pragmatismo (mais o segundo do que o primeiro) que ilibaria os aspectos e "conjecturas morais" em benefício do que tão-só "funciona bem". Não me parece muito justo, sobretudo porque aquilo que o pragmatismo recusa à partida é a explicação imanente do mundo, valorizando a verificação prática e tácita da relação entre os fenómenos que constituem a vida (no seu desdobrar-se categorial entre o nível potencial, o agora-aqui e o nível das previsões racionais). E creio que este princípio (processual e dinâmico) se aplica quer aos eventos e suas redes circunstanciais, quer à espessura do dever-ser ético (apesar de uma certa erosão do segundo, mais por causa daquilo que Lipowetski tão bem explicou no seu Crepúsculo do Dever do que por razões propriamente de ordem pragmática).