No coração do kitsch
No Fórum-TSF continua a discussão sobre os pontas de lança. A euforia em que o país anda mergulhado é de um kitsch tão acentuado como eram há duas décadas as manifestações do 1º de maio da Praça do Kremlin. Fazer do futebol o papel de cenário ilusório de onde sairia a nossa própria salvação (identitária, económica, mediática, pulicitária, nacionalista e relativa à auto-estima, etc., etc.) é tão ridículo e paradoxal quanto imaginar Eugénio de Andrade a declamar poemas seus dentro de um carro de fórmula 1 em plena competição. Desfasamentos radicais. Eu até gosto de futebol e tenho as minhas paixões clubísticas, mas sei antes de tudo que o futebol é um espaço de entusiasmo e de saudável delírio que dura noventa minutos, that´s it. E fiquemos por aí. O resto é para sorrir e não levar muito a sério (debates na TV, polémicas nos jornais desportivos, parangonas de directores de clube e coisas dessas). De vez em quando, ele é Timor, ele é Expo, ele é coisas dessas para encher o olho e o gáudio do indígena. Mas utilizar o futebol como móbil e miragem do auto-cumprimento profético é um verdadeiro regresso à loucura daqueles cenários coloridos dominados pela comédia trágica de Brejnev (escrevia-se assim?).