quinta-feira, 17 de junho de 2004

Mudar de casa - 5

Ver as estantes reduzidas ao esqueleto, entender a crispação com que se desvivem da sua função primeira, imaginar a náusea com que reinventam a sua forma subitamente solitária. No fundo, é como olhar para uma cidade e voltar a vê-la como se não passasse de um amontoado de estruturas e gaiolas sem habitabilidade, sem paredes, sem janelas, sem reminiscências da redenção quotidiana. Há na mudança de casa um entreposto de loucura, ou seja, um real desapossar das ficcionalidades habituais. De repente, a montagem entra em cena sem qualquer projecto e toda a vida à nossa volta se reduz à riqueza de uma fita inocente e exuberante à George Méliès. Podem crer.