Hermenêutica da nostalgia (ganda título!)
Acabei de dar a última aula a uma turma em fim de licenciatura. É sempre errático e às vezes desconcertante ver aparecer e ver partir grupos e grupos de alunos. Vão e vêm, à medida que passam os anos, e, em boa verdade, todos eles formam um caudal ou um fluxo a prazo dificilmente reconhecível enquanto grupo. Uma ou duas décadas depois, reconheço-os sempre individualmente (preservo bons amigos entre eles e sigo a carreira de alguns bastante conhecidos, ou nem por isso; a diferença não é capital), mas perco sempre a ideia de corpo, de grupo, de entidade plural fechada. Curioso é o facto de, ao contrário da previsibilidade do aluno de mestrado, interessado, motivado e entendedor do sentido de pesquisa, aqui, mesmo a dias do final de licenciatura, tudo parecer ainda circular entre o facilitismo próprio ("que páginas vêm para a frequência?") o deixa andar afectuoso ("Ai, professor, tanto trabalho e só me apetece é ir para a Caparica") e alguma infantilidade despregada (que não censuro em termos moralóides ou paternalistas, é evidente). Ao fim destes oito meses de testemunho comum, fica sempre a mesma e irrespondível pergunta no ar: que riqueza se terá adicionado (à já existente) em cada uma dessas pessoas de quem fui professor? Mesmo que a resposta pudesse ser dada, individual e até compulsivamente (estilo juízo final, imagine-se"!), jamais as palavras traduziriam o que se respira no que é sincero e sobretudo desejado na pergunta.