sábado, 22 de maio de 2004

Demagogias frívolas



A mudança de sede do IAPMEI de Lisboa para o Porto é um exemplo claro de provincianismo populista. Sem uma política de efectiva ligação ao terreno (a tradição centralista em Portugal, natural pela escala, tem tradições evidentes), o governo acena no parlamento com um desígnio casuístico, mais ou menos alvoroçado, e faz lembrar a célebre definição de governar que Eça de Queiroz nos deixou, precisamente nos seus jovens escritos do Distrito de Évora (nº42, 2/6/1867):

“A ciência de governar é neste país uma habilidade, uma rotina do acaso, diversamente influenciada pela paixão, pela inveja, pela intriga, pela vaidade, pela frivolidade e pelo interesse”.

Esperemos que o INE não siga o mesmo caminho. Para já não falar no exacerbar das paixões localistas, pacóvias e mesquinhas que a actual descentralização (em curso…) tem motivado de norte a sul (qualquer cidadezinha minúscula, qualquer cacique melífluo, qualquer concelhia gaiteira quer ser capitel solitário de um vaticinado templo imperial). Sabem que mais? Gargalhada geral. Passam os governos e, nestas coisas essenciais (a hipocrisia da auto-estima e outras parvoíces do género), bastamo-nos à intemporalidade. De facto, entre “o dia P” e o aceno casuístico do ministro fica desenhada muita da gesta do nosso presente. Já se sabe, o Gondomarense é que tem a culpa.