sexta-feira, 23 de abril de 2004

Abril - 6



Na véspera da explosão dos emissores da Rádio Renascença, a 6/11/1975, os secretários-gerais do P.C.P. e do P.S. protagonizaram no preto e branco da TV o famoso debate do “Olhe que não, Olhe que não”. Foi um breve momento televisivo de quatro horas. O país seguiu a famosa e previsível retórica da denegação mútua. Vejamos o que diziam nas altura os jornais:

“...é mesmo indispensável que os três partidos maiores do País, que têm estado desde o início associados ao processo iniciado com o 25 de Abril, o P.S., o P.S.D. e o P.C.P., se mantenham ligados através de um projecto comum que vise a instauração da democracia em Portugal, democracia essa a caminho do socialismo.”

Em Soares e Cunhal frente a frente na TV/ Quatro horas sem resposta/ registo da partcipação de Mário Soares; A Capital,7-11-1995, p.2.

“No presente Governo há alguém que representa os interesses contra os quais é dirigida a revolução portuguesa, alguém que representa os interesses das classes privilegiadas, alguém que representa os interesses dos exploradores do nosso Povo”(...)”é o que está a suceder no VI Governo. Com a tentativa de uma viragem à direita, com a tentativa de pôr em causa as conquistas da revolução, com a política prática dos partidos que pertencem ao Governo contra a Reforma Agrária, contra as nacionalizações.”

Em Soares e Cunhal frente a frente na TV/ Quatro horas sem resposta/ registo da participação de Álvaro Cunhal; A Capital,7-11-1995. p.3.

As palavras são translações. Inundações erradicadas, irreais, auguradas. Nada as contém a não ser o tempo. Tudo as despovoa a não ser o tempo. Sempre o tempo, essa magna translação que o corpo não toca. Corpo territorial, animal ou social, eis a breve inundação que o trespassa: palavra ainda distante. Inacabada. Desfocada. Inexistente.