segunda-feira, 9 de fevereiro de 2004

Monteverdi



Ouço Monteverdi (Vespro della Beata Vergine). Gosto da ondulação sem fim. Da irregularidade pressentida. Da repetição que visa o rodopiar dos sentidos imanentes (como se o divino surfasse numa rede homóloga à que o canto dispõe em jogo). É uma ficcionalidade de um outro tempo. Tão desconcertante e bela quanto os discursos que analisam as impossibilidades e as dúvidas que se põem ao mundo de hoje. Mas a paixão que sempre me invadiu, neste seiscentismo já observador das metáforas empíricas, advém sobretudo do seu vivo halo de intemporalidade. É aí que ausculto a perpétua novidade desta música.