segunda-feira, 16 de fevereiro de 2004

Indexicalidades

Há blogues que funcionam com índices, ou seja, como simples sinais que se limitam a apontar em certas direcções. Como se fossem sinaléticas de um centro comercial. Convidam os leitores a ir ler algures isto e aquilo sem se preocuparem, pelo menos com a mesma intensidade, em dizer o que têm a dizer (se é que têm alguma coisa a dizer). Esta dependência face ao discurso dos outros, esta subserviência face às agendas (e aos artigos de jornal), esta vacuidade explícita como regra torna o agir bloguítico bastante inútil. Não acham?
(Nota: Diz Peirce, o autor deste conceito de “índice”, que o que faz o índice ser um signo é aquilo que ele denota e não tanto ele mesmo; e a verdade é que, se eu levar um sinal de “sentido obrigatório” para o meu quarto, ele passa a ser um objecto decorativo, ou parte de uma instalação estética, e deixa de ser, de facto, um índice. O que o fazia ser índice era, afinal de contas, a própria rua que ele denotava. Isso significa que um blogue que apenas tem como função apontar para algo - a tal função meramente indexical - deixa de ser um blogue no momento em que aquilo que denota desaparece de cena. E isso acontece todos os dias. Conclusão: um blogue que apenas serve para apontar é como um fantasma que, no fundo do palco mal iluminado, grita: “Eu existo!” - e ninguém já acredita, a não ser ele).
A verdade é que a malta gosta de autoestradas apenhadas de carros e cheias de ruído visual.
A verdade é que eu não estou a pensar em nenhum blogue em especial. Carapuças à parte.