quarta-feira, 18 de fevereiro de 2004

Fidelidades

Foram horas e horas, mas hoje acertei de vez o passo com o passo do romance. Pequenos hiatos por resolver. Cortes e alguma leveza a sobrevoar a escrita. Há mais de um ano que a dita convive comigo e só agora começa a levantar a cabeça. E ainda bem. Vejo letras sobre letras como no fundo da terra as raízes apenas vêem raízes fundidas com outras raízes, nessa estranha matiz de escuridão apenas aureolada por ínfimas clareiras desenhadas por fios de água e pelas caneladuras prontas a florir, rodeadas por formigas de asa e por toupeiras cegas de tanta leitura da vida. É assim o processo de incorporação romanesca: uma descida à escuridão mais radical onde a intimidade de cada letra se vai, a pouco e pouco, tornando numa luz a desembainhar no momento do grande duelo final: a entrega do material ao editor. Já faltou mais. E aí, no dia dessa entrega, acaba tudo. E abrem-se os olhos para o próximo romance, já que a fidelidade nestas coisas, e noutras, é rainha soberana. Deve sê-lo. Um de cada vez!