Cultura antropomnívora
A nossa época continua a criar comprazimentos ainda muito parecidos com o apego romântico pelas ruínas. De onde vem esta atracção pelas fotografias já gastas, cinzentas e sem contraste? De onde vem este amor pelo vinil com riscos, envolto em grão, longínquo e monofónico? De onde vem este gosto pela arqueologia industrial, pelo tijolo corroído, pelos vidros foscos e pelo metal quase ferrugento? De onde vem esta veneração que revê o génio no sublime e o sublime no génio? De onde vem toda esta fúria avassaladora que vê no homem e nos seus vestígios o inultrapassável e indiscutível objecto de estudo e de paixão? Onde dantes havia Graça divina, há hoje graça humana (i.e. Cultura). Apenas isso? Os tomos que se têm escrito sobre o que afinal cabe nestas pobres, escassas e ingénuas linhas.