segunda-feira, 12 de janeiro de 2004

Sinal dos tempos

Com o máximo respeito pela memória do falecido poeta Eduardo Guerra Carneiro e pelos que o acompanharam na vida e na morte, não posso deixar de sublinhar a importância - eu diria antropológica, sem qualquer sentido pejorativo - de um texto de Baptista Bastos que descreve, como poucos o terão conseguido até hoje, o que é a auto-imagem de uma certa esquerda oitocentista ressentida com a história real do planeta,angustiada com a morte do seu deus (dos seus dogmas) e claramente inadaptada às metamorfoses da actualidade. Transcrevo o texto, que fechava uma crónica de Baptista Bastos no Público do passado Sábado, pelo valor literário e sobretudo metafórico do mesmo e sem querer, repito, de qualquer modo, atentar contra a pureza dos sentimentos que lhe são, com toda a certeza, subtetxo. Eis a descrição que se centra nas pessoas presentes ao funeral de Eduardo Guerra Carneiro:

“Gente que tinha experimentado a tristeza de viver, na alegria esfuziante das conivências e das irmandades. Gente ardida, indócil, iluminada pela saudade do heroísmo impossível. Gente da noite, do uísque, do silêncio e da repulsa. Gente certamente imperfeita, mas certamente impoluta, instigada pelo ânimo cordial que subvenciona a mais imperiosa das exigências: a das amizades intactas.”