segunda-feira, 12 de janeiro de 2004

Pathos de Inverno - 3

Ainda o nevoeiro a polvilhar os ramos e a luz amarelada a espargir-se sobre telhas de barro, de onde sobressaem rumores antigos do fundo do mar e asas episódicas de pássaros que não esperam por resguardo ou sequer pelo anúncio de qualquer redenção. A sonolência do Inverno é feita desta bruma incerta e estranha onde as ervas mais rasteiras se ofuscam e até confundem com a sua imagem de tímido pasto ainda a respirar através de raízes subterrâneas, elas sim à espera de parto e de redenção. Mas isso é outra lenda, outra história, feita apenas de aura e de memória involuntária, e que é narrada por vozes sábias, à luz do fogo, quando este frio, que atravessa mármores e granitos espessos, voltar a ser afagado pelo nevoeiro que nos garante a compaixão do olhar. Ei-lo mais uma vez, na minha frente, denso e liquefeito, a coar os ramos das árvores e a sussurrar o silêncio da carne. Veio como há-de partir, um dia. Pela aguardada planície do desejo.

Outra Esquina

A nova Dois (TV) tem um blogue. Pela minha parte, estou ainda na fase de análise. Recuso-me, para já, à tese do antes e do depois. É uma tese que esquece a linha de fuga (que geralmente se expande, de modo ecléctico e dinâmico, por entre as cristalizações do antes e do depois. Transcendendo-os).