Josef Nadj
Ontem vi o Woyzeck de Buchner, encenado e interpretado por Josef Nadj (trata-se de uma temporada de dança comissariada por Rui Horta e que decorre em Évora, no Teatro Garcia de Resende, entre Outubro de 2003 e Maio próximo). Sem fio narrativo claro e confinado a uma caixa negra de iluminação bastante ténue, esta trama transdisciplinar rompe as fronteiras da dança e do teatro (e não só), aproximando-se da lógica íntima de uma caixa de música que tenta, a partir da cena imaginária, criar a sua própria realidade. O silêncio, o desconforto, os breves lances de ironia, a fogosidade às vezes iminente, a acrobacia gestual e o elo trágico trazem a este Woyzeck uma visão talvez imprevista no seio da qual o humor e alguma crueza pactuam com estoicismo. Um belo espectáculo, afinal.