Chove chuva
Chove outra vez. O limoeiro balbucia com alguma aflição. No fundo do quintal, há um debate quase épico entre a coreografia dos lençóis estendidos à chuva e a persistente aura dos citrinos. Faltam as ondas, falta imaginar uma doce Carmen granadina a agitar o leque de pavão colorido. Falta o imenso calor com pelo menos quarenta graus à sombra. É nesses dias que me sinto imperador da felicidade. Hoje, mais não sou do que a pálida sombra de um insecto a olhar para os raquíticos troncos da roseira-de-Damasco. Chove.