A viagem da blogosfera - 2
Acerca do post de ontem, escreve o Crónicas do Deserto: a "autonomização terá de ser relativamente a algo ou alguém, uma vez que as autonomias se jogam entre as heteronímias e as independências."
De facto, a identidade do discurso na rede (e não só) apenas tem razão de ser em permanente diálogo com o que a desequilibra. Ou não fosse uma identidade uma amálgama de blocos que deslizam dentro de certas balizas. Espera-se, no caso da blogosfera, que o blogueador não iniba, ainda que involuntariamente, esse deslizar. Só assim a multiplicidade das suas vozes assegurará a riqueza plena que a escrita em fragmento (que também é esta) suscita. A Bomba, entre muitos outros blogues, encontrou naturalmente este desencontrar entre o quotidiano e a reflexão, entre o eu-delirante e o eu-questionador, embora, ontem, tenha chegado a confessar que a blogosfera pode acabar se a fusão com o quotidiano se tornar insustentável. Mas não é essa falta de sustentabilidade o desafio desta escrita das escritas em rede?
Por outras palavras: uma escrita livre e pessoal, fragmentária e aberta, fortemente intertextual e contaminada, dissociada de um suporte que a tornasse num organismo centrado, tendencialmente estático e alérgica ao interactivo não é, em si, um desafio à própria ordem dominante do quotidiano?
Creio sinceramente que sim.