sexta-feira, 5 de dezembro de 2003

Insónia

Na insónia, há um túnel obscurecido que se forma. Subitamente. Vindo daquele tipo de surpresa que aparece nas paisagens sem fim. Praias, mares, planícies, estepes. E há que saber percorrê-lo como se não houvesse tempo. O que se pensa na insónia não é nunca da ordem da objectividade. É antes da ordem das súmulas indistintas, dos restos sem origem, dos vestígios do próprio presente que dão de si imagens sem quaisquer contornos. A insónia é uma passagem pesada, um sarcófago sem múmia, um canal sem Veneza à volta, um andante aventuroso sem cavaleiro, um Stabat Mater sem Vivaldi. Geralmente há pouca esperança na insónia. Mas sabe-se, apesar de tudo, que tudo irá continuar. Curioso é o facto de, na literatura, a insónia estar a condenada a ser um tema menor. Por que será meu caro Marcel?